A Fundação Carlos Gomes (FCG) realiza uma programação especial para comemorar o aniversário de morte do maestro Antônio Carlos Gomes, que é o patrono da instituição. A programação ocorrerá no próximo dia 16 de setembro, às 18h, na sala Ettore Bosio, no Instituto Estadual Carlos Gomes (IECG). O evento tem coordenação da Prof.ª Dóris Azevedo e contará com a participação da Banda Sinfônica da Fundação Carlos Gomes (BSFCG), de alunos do Ópera Estúdio e de professores de piano e canto do IECG.
O espetáculo será dividido em três etapas, apresentando as diferentes facetas e toda a versatilidade da obra deixada pelo compositor para Banda Sinfônica, Ópera e Piano. A programação terá início com a apresentação de árias de óperas consagradas do compositor paulista e interpretadas pelos cantores líricos que integram o Ópera Estúdio, projeto de extensão da FCG, que tem o objetivo de profissionalizar cantores líricos para atuar em produções operísticas.
Além de mostrar a importância do maestro no terreno da ópera, onde o compositor teve muita representatividade, a programação também reserva espaço para a obra camerística, que é dividida entre as modinhas e canções escritas por ele. A interpretação das músicas desta fase artística do compositor ficará a cargo das cantoras líricas Márcia Aliverti e Madalena Jorge Aliverti, que serão acompanhadas ao piano por Humberto Azulay. A cantora Madalena Aliverti, coordenadora do Curso de Bacharelado em Música da FCG, explica as características dessas composições. ‘As modinhas têm texto em português e pertencem a uma época em que as características nacionais da música erudita brasileira ainda não eram tão definidas nem ele parecia ter essa preocupação. Já as canções demostram maior amadurecimento musical, sendo quase todas sobre textos italianos e em linguagem musical italiana da época’, comenta a artista.
Em outro momento do concerto, haverá a apresentação só de peças para piano executadas por professores de piano do IECG com a participação do pianista Paulo José Campos de Melo, superintendente da FCG, interpretando a ‘Grande Valsa de Bravura’. No encerramento do concerto, A Banda Sinfônica da Fundação Carlos Gomes (BSFCG) apresentará a abertura de ‘O Guarany’, uma das peças mais conhecidas do maestro, que terá regência de Amilcar Gomes. Além disso, a BSFCG também fará a execução do Hino do Conservatório Carlos Gomes.
Campos de Melo explica que as composições do maestro Carlos Gomes continuam sendo representativas do período áureo da ópera italiana. ‘As obras para piano como a ‘Grande Valsa de Bravura’ são escritas e pensadas de forma orquestral e no estilo da ópera italiana que Carlos Gomes dominou magistralmente. São peças cujas melodias e encadeamentos harmônicos pressupõem a ideia de um texto de libreto que será narrado pelo interprete apenas com a música. Ao mesmo tempo, ele explora o piano em todas as regiões e mesmo sendo virtuosístico, a música está em primeiro plano, obedecendo a forma e todas as características que fizeram de Carlos Gomes o maior compositor de óperas das Américas, título que ele detém ainda nos dias atuais’.
A homenagem ao maestro no dia de sua morte é uma tradição do Instituto Estadual Carlos Gomes, que é a instituição mantida pela FCG com o objetivo fomentar o ensino fundamental e técnico da música. Há 119 anos, o Instituto proporciona a educação musical de qualidade para alunos de Belém e também do interior do estado, através de projetos de interiorização. O IECG é considerado a terceira instituição dessa natureza fundada no país.
O motivo da homenagem ocorrer na data de falecimento e não de nascimento do compositor se dá porque o aniversário de nascimento de Carlos Gomes é dia 11 de julho, período de férias escolares em Belém quando não há atividades acadêmicas no IECG. ‘Por essa razão, é de praxe que os eventos musicais em homenagem ao maestro ocorram próximos a data de seu falecimento, dia 16 de setembro’, explica o Diretor de Ensino do IECG, CláudioTrindade.
Para Trindade a homenagem é uma forma de preservar sempre viva a memória do músico, de reconhecimento internacional. ‘Queremos lembrar o trabalho dele não só como maestro, mas como músico importante que teve carreira internacional no século XIX e também como grande brasileiro que ele foi e que levou a cultura do Brasil para outros mundos’.
Para os jovens conhecer essa que é uma figura importante do nosso Brasil e a importância dele na história da música universal é fundamental. Da mesma forma, é papel da instituição fazer com que as novas gerações saibam do trabalho que ele iniciou aqui no Pará. ‘Carlos Gomes foi convidado para vir a Belém para cuidar dessa instituição e aqui ele fez amigos e pode dar início ao instituto que leva o seu nome’, conclui o diretor.
Histórico do compositor
Antônio Carlos Gomes nasceu no dia 11 de julho de 1836, na cidade de Vila Real de São Carlos (atual Campinas - SP). Filho do músico Manoel José Gomes e de Dona Fabiana Jaguari Gomes, o menino de família humilde foi carinhosamente apelidado de Tonico. Com 24 anos de idade e contra a vontade do pai, mudou-se para o Rio de Janeiro (então capital do Império) com o intuito de consolidar sua formação musical. Seu nome já era conhecido quando foi apresentado ao Imperador Dom Pedro II, que se tornou amigo, admirador e principal patrocinador. Anos depois, por conta do Império Brasileiro, foi enviado a Milão para aprimorar seus conhecimentos musicais e iniciar sua carreira internacional.
Em 1870, no Teatro Alla Scalla de Milão, foi apresentada sua ópera mais famosa: Il Guarany (O Guarani), a obra ganhou rapidamente a admiração do público e da crítica, pois, além de grande qualidade e refinamento musical, apresentou ao mundo nossa “brasilidade”, ao retratar o índio com papel de destaque. Em 1895, Lauro Sodré, então governador do Pará, convida Carlos Gomes para organizar e dirigir uma instituição de ensino musical. Mesmo com a saúde extremamente fragilizada, o compositor, honrado, aceita a missão de diretor da Seção de Música da Associação Paraense Propagadora de Belas Artes. O órgão embrionário do Instituto Estadual Carlos Gomes funcionava no atual prédio da Academia Paraense de Letras (Rua João Diogo). No ano seguinte, por complicações de um tumor, Carlos Gomes falece em Belém aos 60 anos de idade. Após inúmeras homenagens e um cortejo com mais de 70 mil pessoas que seguiu até o cemitério da Soledade, seu corpo foi transportado para ser sepultado em sua cidade natal, a pedido do governador Campos Sales.
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