FCG: O que representa um evento como este para o Estado do Pará, que tem tradição em bandas de música ?
MJ: Esta primeira fase do Festival Internacional de Música do Pará, que chamamos de "Música das Américas" representa justamente a consolidação das ações contínuas de apoio às bandas de música, e com uma amplitude maior com relação ao qualitativo das atividades já desenvolvidas pelas bandas, e um direcionamento para a formação, dentro da própria banda, de uma mentalidade musical universal, tendo na banda sinfônica uma meta de trabalho artístico, e na educação musical o maior suporte pedagógico para atingir esta meta. O pensamento que norteia esta Fase I é fortalecer a tradição, com a inclusão de novas metodologias e uma nova abordagem da banda como elemento artístico do mais alto nível técnico e musical.
Rosa/FCG: Qual a importância de dedicar uma fase inteira de um festival para as sinfônicas e para os músicos que atuam em sinfônicas ?
MJ: O Pará se posiciona entre os Estados do Brasil que observam as atividades das bandas como um manancial de possibilidades, e dedica a elas uma atenção especial para que se capacitem e deem passos firmes em direção a um melhor e mais eficaz planejamento musical e artístico, e que isto seja propulsor para a ampliação do importantíssimo trabalho de inclusão sócio-cultural já realizado pelas corporações musicais. Se posiciona também como referência na América Latina, ao abordar o resultado do trabalho como fruto deste processo de educação musical e inclusão cultural. Ao dedicar toda uma fase do Festival para o desenvolvimento das bandas de música, e possibilitar um olhar mais cuidadoso para a banda sinfônica, como um elemento a ser desenvolvido pelas bandas de música, o Pará, através de sua Secretaria de Cultura e Fundação Carlos Gomes, sinaliza que é necessário dar uma maior atenção à formação musical, e que está atento para este ponto, e para as bandas de música, de onde saem mais de 75% de todos os músicos que se se tornam profissionais em orquestras sinfônicas, bandas sinfônicas, bandas militares, escolas e conservatórios musicais, projetos sociais, etc.
Rosa/FCG: De que forma isso contribui para a formação desses músicos ?
MJ: Por décadas, os festivais de música ocorrem em diversos países do mundo, e colaboram de forma decisiva no complemento de informação necessário à preparação do músico, e temos exemplos de alguns festivais de que se tornaram célebres, como o Festival de Tangleewood, em Boston, onde a Orquestra Sinfônica de Boston atua como orquestra residente, o Festival de Campos do Jordão, no Estado de São Paulo, onde por vários anos a orquestra residente foi a OSESP, a Oficina de Música de Curitiba, que por mais de 30 anos atua de forma ininterrupta no apoio a esta formação complementar. O papel do festival na vida do músico é de estimulo e abertura de novas possibilidades de estudo e conhecimento, é onde o músico passa a ter contato com colegas de outras partes e absorve uma quantidade de informação inimaginável em um plano de estudos normal. O festival incentiva, amplia os horizontes musicais, estimula a capacidade cognitiva, valoriza o compartilhamento de informação, estrutura ideias e as transforma em resultados claros e práticos. O festival condensa o conteúdo de meses e poucos dias e com isto possibilita para muitos o contato com determinadas informações que nunca chegariam de outro modo e com outro formato. O festival faz parte da formação do músico, pois eleva a capacidade artística e atua no desenvolvimento crítico de fazer arte, sem nunca substituir a ação diária e sistemática, ele a engrandece, fortalece e exalta os resultados que muitas vezes estavam adormecidos.
Rosa/FCG: O que o público pode esperar dos concertos?
MJ: Pode sempre esperar concertos realizados com uma forte dose de emoção, por parte de todos os envolvidos. Cada apresentação irá representar a superação e a busca por novas sonoridades, novos resultados melódicos, uma nova proposta artística. O público que acompanhar os concertos, oficinas musicais, e toda a movimentação inerente ao festival, irá testemunhar uma mudança de posicionamento que colocará o Estado do Pará, em um futuro próximo, no topo dos que desenvolvem uma política pública para o desenvolvimento de bandas sinfônicas, sendo estas possíveis de atuarem em todos os tipos de eventos, desde a tradicional procissão do Círio de Nazaré, passando pelas retretas em praças e jardins, até nos concertos em teatros, realizados com o mais primoroso toque de qualidade e ética musical.
Rosa/FCG: Quem são os músicos que vão participar do festival?
MJ: Este evento conta com participações de grande importância no cenário musical, tais como os maestros Matthew George, da Saint Thomas University, e Shawn Smith, da Corpus Christie University, ambos dos Estados Unidos, os maestros brasileiros Dario Sotelo, Mônica Giardini, Marcos Sadao Shirakawa, Marcelo Maganha, os compositores Hudson Nogueira, Néstor Alderete, Marcos Vinício Nogueira, Juan Carlos Marulanda, além de ter a prestigiada Banda Sinfônica do Estado de São Paulo como grupo residente, e logicamente em seu efetivo com profissionais de altíssimo nível técnico, muitos dos quais solistas internacionais, citando entre outros Marcelo Bambam (trombonista), Rafael Mendes (Eufonista), Milton Vito (Saxofonista), Marisa Lui (Clarinetista). Teremos também a participação e consultoria de Eduardo Monteiro, um dos mais prestigiados técnicos de gravação do Brasil, e do Juan Guilhermo Ramirez, que desenvolve um intenso trabalho realizando festivais e seminários por toda a América Latina.
Marcelo Jardim
Consultor e Diretor Artístico do Festival Internacional de Música do Pará - Fase I - "Música das Américas"
Professor de Regência - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Coordenador Pedagógico dos Painéis Funarte para Bandas de Música